No olhar das pessoas, no andar ondulante, no passo firme ou arrastado; na gritaria e tumulto; nas carroças, automóveis, ônibus, furgões, homens-cartaz gingando e arrastando os pés; nas bandas e realejos; na marcha, no refrão e na estranha cantoria aguda de algum avião lá em cima estava o que ela amava: a vida, Londres, este momento de junho.

Peter nunca via nada daquilo. Poria os óculos, se ela dissesse; e olharia. O que o interessava era a situação do mundo; Wagner, a poesia de Pope, o caráter das pessoas, sempre, e os defeitos da alma dela. Como ele caçoava dela! Como discutiam! Iria se casar com um primeiro-ministro e se postaria no alto de uma escadaria; a perfeita dama de sociedade, foi como ele falou (ela tinha chorado no quarto por causa disso), tinha as qualidades da perfeita dama de sociedade, disse ele. Assim ela ainda se pegava discutindo no St. James’s Park, ainda concluindo que tinha feito bem – e mais do que bem – em não se casar com ele.

  • eu tambem imagino esse tipo de conversa

Pois no casamento precisa existir uma pequena liberdade, uma pequena independência entre as pessoas que vivem juntas na mesma casa dia após dia; coisa que Richard lhe dava, e ela a ele. (Onde estava ele agora, por exemplo? Em algum comitê, ela nunca perguntava qual.)

  • csamento distante

Então que importância tinha, perguntou a si mesma, seguindo para a Bond Street, que importância tinha se inevitavelmente deixaria de existir; se tudo isso iria continuar sem ela; ressentia-se com aquilo, ou não seria um consolo crer que a morte era o fim absoluto? mas que de alguma maneira, nas ruas de Londres, no fluxo e refluxo das coisas, aqui, ali, ela sobrevivia, Peter sobrevivia, viviam um no outro, ela fazendo parte, não tinha dúvida nenhuma, das árvores de casa; da casa de lá, feia, toda esparramada como era; fazendo parte de pessoas que nunca conheceu; estendida como uma névoa entre as pessoas que mais conhecia, que a erguiam em seus galhos como vira as árvores erguerem a névoa, mas que se espraiava sempre mais e mais, sua vida, ela mesma.

Muito melhor se fosse uma daquelas pessoas como Richard que faziam as coisas pelas próprias coisas, enquanto ela, pensou esperando para atravessar, metade do tempo fazia as coisas não pura e simplesmente, não por elas mesmas, mas para que as pessoas pensassem isso ou aquilo; idiotice total sabia ela (e então o guarda de trânsito ergueu a mão) pois nunca ninguém notava nem por um instante. Oh se ela pudesse ter sua vida de volta! pensou parando na calçada, pudesse ter até outra aparência!

  • it's really sad seeing that since she is an old lady, she has no confidence, and low self esteem, she needs to do stuff to feel wanted.

. Tinha a sensação estranhíssima de ser invisível, de não ser vista; ignorada; agora não existindo mais casamento, não existindo mais filhos, mas apenas esse avanço surpreendente e bastante solene com os outros, subindo a Bond Street, sendo Mrs. Dalloway; nem sequer mais Clarissa; sendo Mrs. Richard Dalloway.

Tinha direito ao braço dele, mesmo insensível. Deu a ela, que era tão simples, tão espontânea, com apenas vinte e quatro anos, sem amigos na Inglaterra, que tinha deixado a Itália por causa dele, deu a ela um pedaço de osso.

  • apparently Lucrezia is nice but the prime minister is not

Enquanto isso, uma pequena multidão tinha se reunido nos portões do Palácio de Buckingham. Desatentos, mas confiantes, gente pobre todos eles, esperavam; olhavam para o palácio com a bandeira esvoaçando; para Vitória, avultando em seu pedestal, admiravam sua fonte em cascata, seus gerânios; apontavam os automóveis no Mall, primeiro este, depois aquele;

  • I don't know very well how to explain, but I feel like the way the brits talk about the queen show how much they kinda respect and admire the sense of authority, which is something quintessntial to british culture

Amar nos faz solitários, pensou ela. Não podia contar a ninguém, agora nem mesmo a Septimus, e olhando para trás viu-o sentado sozinho com seu sobretudo surrado, no banco, encurvado, olhando fixo.

Longe estavam a Itália, o casario branco, a sala onde suas irmãs se sentavam fazendo chapéus, e todas as noites as ruas apinhadas de gente passeando, rindo alto, não semimortas como as pessoas daqui, espremidas em carrinhos de inválidos, olhando meia dúzia de flores feias especadas em vasos!

contra o olhar dessa prosaica manhã de junho; suave com o brilho das pétalas de uma rosa para alguns, sabia, e sentiu, quando parou à janela aberta da escada que deixava entrar as persianas batendo, os cães latindo, deixava entrar, pensou de repente sentindo-se enrugada, envelhecida, ressequida, o rilhar, o inflar, o florescer do dia, lá fora de casa, fora da janela, fora de seu corpo e cérebro que agora fraquejavam, visto que Lady Bruton, cujos almoços eram tidos como extraordinariamente divertidos, não a convidara.

  • a velhice eh foda

Mas tia Helena nunca gostava de discutir coisa alguma (quando Sally lhe deu William Morris, teve de ser embrulhado em papel pardo). Lá ficavam, horas e horas, conversando no quarto dela no alto da casa, conversando sobre a vida, como iriam reformar o mundo. Queriam fundar uma sociedade para abolir a propriedade privada, e até escreveram uma carta, que não foi enviada. As ideias eram de Sally, claro – mas logo ela ficou igualmente entusiasmada – lia Platão na cama antes do desjejum; lia Morris; lia Shelley a toda hora.

  • acho que todos na juventude sao romanticos demais

A coisa estranha, olhando para trás, era a pureza, a integridade de seu sentimento por Sally. Não era como o sentimento por um homem. Era totalmente desinteressado, e além disso tinha uma qualidade que só podia existir entre mulheres, entre mulheres recémsaídas da adolescência.

  • eh muito interessante o relacionmaneto que ela tem com sally porque so um relacionamento homoafetivo podia estar livre das relacoes de propriedade privada

obrigada, obrigada, continuou dizendo em gratidão por seus criados em geral por ajudá-la a ser assim, a ser o que ela queria, gentil, de coração generoso.

  • critica social foda a burguesia

Pois por que voltar assim ao passado? pensou ele. Por que fazê-lo pensar naquilo de novo? Por que fazê-lo sofrer, quando ela o torturara de maneira tão infernal? Por quê?

Ele sentiu que estava atritando contra algo fisicamente duro; ela era inflexível. Era como ferro, como pedra, rígida até a medula. E quando ela disse “Não adianta. Não adianta. Acabou” – depois de ter ele falado por horas, parecia, com as lágrimas correndo pelo rosto – foi como se ela lhe tivesse dado um tapa na cara. Ela se virou, largou-o, foi embora.

Como Shakespeare abominava a humanidade – pôr roupas, ter filhos, a sordidez da boca e do ventre! Agora se revelava a Septimus; a mensagem oculta na beleza das palavras. O sinal secreto que uma geração passa disfarçadamente à seguinte é a repugnância, o ódio, o desespero.

Lady Bruton preferia Richard Dalloway, claro. Era feito de material muito mais fino. Mas não deixaria que depreciassem o pobre e querido Hugh.

Peter Walsh! Todos os três, Lady Bruton, Hugh Whitbread e Richard Dalloway, lembraram a mesma coisa – como Peter esteve perdidamente apaixonado; fora rejeitado; tinha ido para a Índia; não se acertou; fez uma variedade de coisas; e Richard Dalloway tinha também um enorme apreço pelo bom e velho camarada.

  • interesting how we get to see how others see X and X sees himself

"Por que afinal ela fazia essas coisa? Por que proucarar os pincaros e arder numa fogueira? Tomara que a consumisse msemo! Que fizesse em cinzas! Melhor qualquercoisa, melhor brandir a torcha arremessa-la a terra do que minguar e definhar como uma Ellie Hendernsen! eRA EXTRAODINARIO COMO pETER A DEIXAVA NESSE ESTADO SIMPLSMENTE VINDO E FICANDO NUM CANTO."


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Written by Davi Cavalcanti Sena who lives and works in Vancouver building useless things